0

blog

Quem tem boca vai a roma. Quem tem voz vai pra qualquer lugar.

E não é que de repente eu fiquei sem voz?

Sério. Quando a gente para pra pensar, falar sobre a voz é algo tão complexo, que a gente nem sabe por onde começar. É que poucas coisas são tão importantes para a existência humana quanto a fala, e por tabela, a voz. Uma das primeiras formas de comunicação, era o principal meio de transmissão de conhecimento de uma geração à outra. Isso, antes de imaginarmos qualquer tipo de linguagem escrita. Eu resumiria nossa evolução assim: fogo, voz, escrita, iPhone. Pronto, é mais ou menos isso (bem, talvez precisasse entrar “Gisele Bündchen” em algum lugar nessa equação, mas é só minha opinião). 🙂

Como fotógrafo, diretor de arte e escritor, minha voz sempre foi outra. Ou melhor, outras: luz na fotografia, imagem e tipografia no desenho gráfico, palavras e pontos de exclamação nos textos. Pessoalmente, nasci com essa mania insistente de uma representação gráfica tangível de tudo, na forma como me expresso e represento o mundo que percebo à minha volta.
Mas não é impressionante que você ME IMAGINA GRITANDO QUANDO LÊ ALGO ESCRITO ASSIM? (…ou sussurrando, se em seguida escrevo assim?). E quem consegue não ouvir um choro ecoando quando vê as fotos da série Êxodos, do Sebastião Salgado?

E é nesse ponto que eu queria chegar: a voz é indissociável do imaginário humano. Mesmo quando não se ouve, ela está lá. O mesmo ocorre quando eu digo: imagine essa frase sendo narrada pela Fernanda Montenegro. Pronto, você está ouvindo a voz dela lendo isso, lá no fundo da sua cabeça. É como se a voz tornasse o mundo mais palatável. Como se traduzisse – de forma instintiva-ancestral – a porra toda. Até pra Deus demos uma voz! Um uníssono coletivo da voz de todos nós, através da “voz do povo”. Isso me faz pensar que se os olhos são a janela da alma, a voz é o interfone. E não é à toa que “voz” é sinônimo de “expressão”. Vai muito além da simples ferramenta de comunicação e das frias definições teóricas que determinam emissor, receptor e mensagem.

A voz traz pra fora, aquilo que carregamos dentro. Expõe mentiras, desejos, medos e inseguranças. Exprime certezas e dúvidas, alegrias e tristezas. Nos representa muito bem na nossa complexidade ambígua humana. Seja numa locução, na música, na fotografia, num quadro ou num texto. Coincidência – ou sabedoria divina – aquela que tem a responsabilidade de expressar nossa alma, não podia ter escolhido lugar melhor para nascer. Bem ao lado do coração, no fundo do peito, brota de um sopro. Assim como a vida.

Andrei Polessi é diretor de arte, fotógrafo, escritor e Head of Branded Content da Pitaya Filmes. Co-fundador do Instituto Dharma, organização que promove ajuda humanitária em diversos países pelo mundo.

compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

veja também

A voz vem antes da fé

Eu estava prestes a pegar o voo até São Paulo. Enquanto meu pai procurava a cadeira de rodas e minha mãe buscava o carrinho para as bagagens, tive que ficar sozinho dentro do carro com as portas fechadas. Sozinho por

PORQUE LOCUTORES SÃO MELHORES QUE MÁQUINAS HOJE (E NUM FUTURO BREVE)

Qualquer um que olha pro passado entende o valor da inovação tecnológica na construção do progresso. Comemos muito arroz e feijão para chegar até aqui. E eu, claro, não penso diferente. Portanto, em prol da clareza: Quero escrever para organizar

A voz

Ao tentar dar “voz” a minha tarefa de escrever sobre a VOZ, tratei logo de ir a campo e pesquisar o que define essa palavra tão poderosa de três letras. Origem ⊙ ETIM lat. vox,vōcis ‘som da voz, voz’ A