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A voz do coração

Você e eu, nós mamíferos, possuímos o sistema límbico: uma parte do nosso cérebro responsável pelas emoções e comportamentos sociais. É o pedaço “burro” e incontrolável desse órgão que habita nosso crânio. Também temos uma região cerebral que se desenvolveu mais recententemente, fruto de nossa evolução como espécie, por isso chamada de neocórtex – nosso cérebro intelectual, responsável por pensamentos racionais e analíticos.

Segundo meu querido amigo Dr. Pedro Henrique Penna Chaves – um cara incrível, especialista em comportamentos e sumidade no universo da psiquiatria – o cérebro é um só. Podemos desmembrá-lo em análises, mas todas as partes são conectadas e interdependentes. Se você tem curiosidade para entender com profundidade este órgão fascinante de modo científico e amplo, boa sorte. Assunto extenso, complexo. Nós somos complexos e esse é o barato.

Meus primeiros saudáveis incômodos e reflexões sobre o tema límbico ou neocórtex começaram com o famoso TED do escritor Simon Sinek. Em seu livro mais famoso, “Start With Why – How Great Leaders Inspire Everyone to Take Action” (Comece com o por quê – Como grandes líderes inspiram ação, em uma tradução livre), Sinek afirma que “as pessoas não compram o que fazemos, elas compram porque fazemos”. O “why” fala com nosso sistema límbico, aciona nossas emoções e comportamentos, nossos atos. Eu levo essa afirmação um pouco além: as pessoas não compram porque dizemos a elas para comprarem, mas porque acreditam no que estamos falando.

O que faz uma voz entrar por um ouvido e sair pelo outro, enquanto outra entra para nunca mais sair? A meu ver, é a verdade. Acreditar verdadeiramente, profundamente, espiritualmente, visceralmente no que estamos dizendo ou no que temos a dizer. Eu acredito muitíssimo, mesmo sem conhecer fundamento científico para essa crença, que a emoção verdadeira afeta o receptor da mensagem. Se em algum momento você não acreditar no que está dizendo, do outro lado, de modo inexplicável, vão perceber e sentir. Parece simples? Longe disso. Se fosse assim, o detector de mentiras seria mais útil do que smartphones.

Quando você fala, canta, recita, cochicha ou grita com a verdade do coração, será ouvido. Quando o seu coração não estiver no pique de falar ou se você não o acionou, provavelmente o que você tem a dizer ninguém vai escutar – mesmo ouvindo.

Vozes virtuosas e treinadas, com domínio sobre entonação, pausas e ênfases, são recursos valiosos para comunicar uma mensagem de maneira assertiva.

A emoção contida ou explícita do que dizemos, a entonação grave, aguda, em alto ou baixo tom, prolongada ou seca, breve ou extensa, suave e delicada farão ainda mais diferença se a potência entregue pelo coração for plena. Caramba, que viagem! Pois é, somos complexos.

 

Alexandre Bassora

Sócio fundador e diretor de Criação da Audaz.

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